domingo, 7 de agosto de 2011

Sou mais Policarpo Quaresma

 

Não estou fazendo a menor questão de votar. Não estou nem um pouco a fim de fazer esse recadastramento biométrico. Se a Justiça Eleitoral não facilitar minha vida, vai ficar por isso mesmo.

Ando muito desiludido com política. Pouco ou nada leio sobre. Na verdade, penso que ler picuinhas políticas não é ler sobre política. Ainda não descobri fontes interessantes, mas sei que o erro é meu. João Ubaldo Ribeiro disse que essa minha postura já é uma opção política. Beleza, foi isso mesmo que escolhi.

E vou tentar justificar minha escolha: é uma honra ocupar um cargo eletivo. Ser presidente da república, governador, senador, prefeito ou deputado é uma honra! Representar o Estado, o povo, lutar pelos seus interesses, semear ideias de desenvolvimento, evolução, erradicação da miséria, contribuir para a felicidade do povo é de uma grandeza sem tamanho. Mas grande parte das pessoas que se candidatam, que querem ser “os eleitos”, nem atinam para a importância do cargo. Pensam logo nos privilégios, nas mordomias, no tamanho do salário e dos auxílios. Não querem saber da responsabilidade de administrar um monte de dinheiro e ser porta-voz de um povo. Aprendem a ser “políticos”, a se comportar como tal, na ilusão boba de enriquecer, ganhar prestígio.

Uma vez ouvi: “Esses cargos eletivos deveriam ser honorários, ninguém deveria receber nada por isso. A honra do cargo é a justa retribuição do trabalho”. É isso mesmo! Quem quiser enriquecer, quem quiser empregar a família e os amigos todos, quem quiser ser nome de obra pública, quem quiser fazer carreira de “político”, quem entende eleição como um jogo, quem quiser “montar” no Estado, que procure outra história. Sarney passou os últimos cinquenta anos estapeando a cara do povo maranhense, botou o próprio nome em praticamente todos os prédios públicos, virou bilionário, transformou o nome Sarney em sinônimo de sujeira e ainda foi eleito senador pelo povo que massacrou. A última dele é: “Quem estiver achando ruim que vá reclamar com o Criador”. Sarneys da política brasileira, não se enganem, Ele ainda vai reclamar com vocês. Francamente, eu sou mais Policarpo Quaresma.

“Policarpo era patriota. Desde moço, aí pelos vinte anos, o amor da Pátria tomou-o todo inteiro. Não fora o amor comum, palrador e vazio; fora um sentimento sério, grave, e absorvente. Nada de ambições políticas ou administrativas; o que Quaresma pensou, ou melhor: o que o patriotismo o fez pensar, foi num conhecimento inteiro do Brasil, levando-o a meditações sobre os seus recursos, para depois então apontar os remédios, as medidas progressivas, com pleno conhecimento de causa”. Aqui está o embrião de um bom representante. A partir de agora só votarei em Policarpo Quaresma! E não me deixarei enganar.

Você pode estar pensando que somos nós todos que elegemos os Sarneys da política brasileira. Tá certo, a culpa é nossa, inclusive minha. Mas o Estado não deve incentivar a prática, não deve retribuir-lhes com tanto dinheiro e privilégios, nem nós devemos eleger os Sarneys. Eu por mim não voto mais em ninguém, estou totalmente desiludido, desinteressado. Eleição assim faz doer e amarga que nem jiló. Quem ocupar cargo eletivo não recebe mais dinheiro por isso, apenas ajuda de custo: casa, comida e roupa lavada e, o mais importante, a honra de ser um representante do povo, sua voz, de ter a oportunidade de ajudar e contribuir para a felicidade de todos. Logo de início sentiríamos as consequências. O número de candidatos diminuiria consideravelmente, porque grande parte dos mal-intencionados sumiria. A propaganda eleitoral seria muito mais verdadeira e interessante. Ou talvez nem precisasse de propaganda porque as pessoas naturalmente reconheceriam aqueles dignos de voto.

Eleição seria a coisa mais natural do mundo, sem confusão, morte, compra de voto. Os vencedores seriam o povo. Os Sarneys ficariam de fora. E o melhor de tudo: o povo sentiria os efeitos, pagaria tributo satisfeito, admiraria os eleitos. A verba, ao invés de enriquecer nossos representantes, enriqueceria a educação, a saúde, a segurança pública, o transporte, o próprio povo. Veja só, o nosso dinheiro seria bem empregado, nenhum político multiplicaria em vinte vezes o próprio patrimônio. Dinheiro não pararia na cueca de ninguém.

Uma última esperança: tomara que nossos Policarpos Quaresmas não tenham o mesmo triste fim daquele de Lima Barreto. Porque eu penso assim: uma andorinha só não faz verão, mas é de Quaresma em Quaresma que a galinha enche o papo. Francamente, sou mais Policarpo Quaresma.