sábado, 14 de janeiro de 2012

Bom dia, eu sou o ENEM

Caríssimos pais,

Meu nome é ENEM, sou o novo vestibular. Nasci em 1998 e estou crescidinho.

Sou fruto de muito estudo. Fui concebido como alternativa ao método tradicional de ensino: sou o primogênito da família Piaget.

Agora, eu estou tentando humanizar a educação brasileira, desrrobotizar seus filhos e filhas. Eu quero que eles aprendam a aprender, gostem de escola e de estudar. Eu não gosto de ver tristeza na escola, muito menos medo de prova. Quero mais leveza e menos rigorismo. Por isso carrego propostas diferentes das tradicionais.

Eu quero ensinar meus alunos e alunas a analisar informações, formular ideias e chegar a conclusões próprias, sem imitar as dos outros. Quero ajudá-los a entender a vida e as coisas da vida, quero que eles descubram sozinhos a riqueza do conhecimento. Quero que eles sejam capazes de caminhar com pernas próprias, de descobrir o próprio talento e valorizar o dos outros.

Quero resgatar o valor da arte, quero que eles vivam a arte da vida. Quero que eles sejam conscientes de si e do mundo, que eles respeitem a si e ao próximo. Quero alçá-los à condição plena de vida.

Quero preencher de sabedoria o vazio que está cheio de droga. Droga de todo tipo. Por isso meu programa é diferente. Eu sou capaz de aceitar as várias habilidades que são dadas aos seus filhos e filhas, e de exercitá-las até que brotem boas flores e bons frutos.

O corpo fala e não mente. Por isso quero resgatar a importância da educação física, do corpo-expressão-saúde. Quero ensiná-los a importância da postura, da inteligência corporal. E da boa nutrição, da escolha acertada dos alimentos. Quero deixá-los preparados para a epopeia da vida.

Eu proponho mudanças na base da educação, na base do ensinar-aprender. Se a educação no Brasil precisa mudar, o protagonista é a criança, e isso passa inevitavelmente pela figura do educador. Então, peço a compreensão de vocês, pais e professores.

O primeiro passo é mudar a “sala” de aula. Eu proponho que o professor leve, ou melhor, volte a levar, os alunos e alunas ao jardim, ao parque e à floresta, ou ao circo, ao teatro e à apresentação de rua, para apreender-lhes a riqueza biológica, físico-química, matemática, histórica, cultural, sociológica, ambiental, étnica, poética. E - porque não? - filosófica. Eu quero desmistificar a filosofia. Eu quero que os alunos entendam que o ponto de vista é o xis da questão, que a verdade é plural.

Eles não aguentam mais o palavreado de cientista. Fora do laboratório, eu os deixo livres para “apelidar” as coisas e os fenômenos que lhes aparecem à fronte. E, fascinadas, compreenderão as diferenças culturais e étnicas, serão tolerantes às várias religiões e cultos, e verão a vida com mais poesia.

Eu quero ver menos adolescentes confusos e psicologicamente debilitados. Quero ajudá-los a realizar sonhos. O Brasil, agradeçamos, é rico demais e precisa do talento de todos.

A meninada não quer saber o que é uma oração subordinada substantiva concessiva, muito menos identificar o objeto direto pleonástico da frase. Ela quer condições de se comunicar bem - ler, falar e escrever melhor.

Eu quero formar pessoas conscientes de si e do mundo, cidadãos e cidadãs sabedores de seus direitos e deveres. Quero que os alunos e alunas entendam melhor a importância da política na construção de um estado Justo. Por isso, tenham paciência comigo. Eu não sou mal. Não importa que partido político me colocou em cena, o que importa é que eu estou aqui para melhorar a educação brasileira.

Mas o caminho é penoso, não é porque houve um pequeno vazamento de provas que eu não presto. Enfrentar os problemas do Brasil é tarefa homérica. No entanto, eu estou confiante, porque quando a intenção é boa o Destino ajuda.

Fico por aqui e espero vê-los satisfeitos comigo nos próximos anos.

5 comentários:

Victor Carozo disse...

Intenso.

Parabéns você sintetizou a minha opinião sobre o que representa o ENEM no processo de seleção das universidades federais!


Att.

Fábio César disse...

Parabéns eurico. vc fez victor carozo fazer um comentário. e além disso, o texto está muito bom.

Unknown disse...

Parabéns pelo texto, meu caro. Tomei a liberdade de publicá-lo também em meu blog Dias de Escola (http://diasdescola.blogspot.com/), obviamente, reconhecendo os créditos de autoria.

Um grande abraço.

Lygia Santos disse...

Enem está crescidinho, mas as artimanhas dos que fazem a Educação deste país estão cada vez mais dantescas. No afã de se intitularem "preparados" para o Enem desviam a atenção com informes relacionados ao Exame Nacional do Ensino Médio, porém sem a fundamentação que ele prega: é alusão à TRI(Teoria de Resposta ao Item) como preparação; é definição de assuntos, quando os referenciais de competência pregam a apreensão e compreensão das áreas do conhecimento.
Apesar do Enem está crescidinho, sinto que as vantagens desse advento de uma década, ainda não estejam sendo incorporadas na formação dos estudantes, integralmente.
Bom trabalho, Bartô!

Eurico Neto disse...

Obrigado a todos que comentaram.

Fico feliz em poder compatilhar minha opinião e acender o debate.

Poeta Jorge Henrique, agradeço a publicação.

Obrigado a todos.